sábado, 15 de fevereiro de 2014

E ponto.



Para ouvir: Farol - Supercombo

Desligou o celular com um aceno de cabeça e ficou parada.Não tinha o que falar,não tinha vontade de falar,não tinha força pra falar.Ela sabia que não era um bom sinal: gritava e chorava todos os dias para salvar esse relacionamento havia séculos.Bem, anos, para falar a verdade.Mas agora simplesmente não tinha... vida.Enquanto gritava e chorava, tudo bem, mas quando ela sentia vontade de ficar quieta, é que algo estava errado.Muito errado.

Ele até era uma cara legal, era engraçado, até certo ponto atencioso, gostava das suas músicas e tinha assunto com seu pai nos almoços de família (que eram raros).Estavam juntos a alguns anos, os últimos deles simplesmente infernais.Ela sentia falta daquele sorriso bobo no rosto, do frio na barriga, da paixão, das transas mais de uma vez por dia, das bocas que não conseguem se desgrudar, das mensagens melosas; mais isso acabara lá para o segundo ano de namoro.A rotina trouxe na bagagem um apartamento dividido, e esse apartamento trouxe nos armários as brigas.As maiores, piores e as mais sem sentido também.As brigas vieram e foram embora em fases e o apartamento foi divido na mesma frequência: quando a coisa ficava muito feia, ela sabia que aqueles 3 cômodos na principal avenida da cidade estariam ali, esperando por ela  com a mesma vizinhança barulhenta e o mesmo cheiro de cebola frita que vinha do restaurante da frente.Quando voltava para lá ,a paz voltava junto.Porém, alguns dias depois, o telefone voltava a tocar, a campainha voltava a tocar e em pouco tempo o taxi que levaria suas malas de volta ao apartamento dividido também.E com essa rotina, as brigam voltavam com força total.

No começo eram por que não tinha açúcar, porque a marca do papel higiênico estava errada ou ainda pela famosa toalha molhada na cama. Depois, passaram a ser por manias : a mania dela de ler antes de dormir, a mania dele de cortar as unhas na mesa de centro da sala, a mania dela de tomar café preto no café da manha, a mania dele de comprar aromatizante para o carro.As manias passaram a irritar um ao outro.O que antes era bonitinho,a convivência transformou em insuportável.

Chegaram a decidir que não dava.Que eles se amavam mas não davam certos juntos,okay, paciência, quer que eu ajude com a mala?, a gente se vê, beijo na testa.Mas na primeira noite de cobertor frio, eles ligavam um para o outro falando da saudade e se encontravam.E logo desistiam da decisão.

Passaram anos assim. Uns piores, outros melhores, alguns com alguma esperança, outros com nenhuma.As vezes, conheciam outras pessoas mas nenhuma era tão legal quanto ela, nenhum era tão engraçado quanto ele, nenhum tinha o cheiro tão bom quanto.Por isso,sempre acabavam voltando para a mesma cama do apartamento dividido.

A ultima briga, na sexta, foi a mais leve.Não foi bem uma briga, na verdade, foi mais uma reclamação que levou um silencio contemplativo.Enquanto ele dormia, ela colocou umas mudas de roupas dentro da bolsa e voltou para o seu apartamento.Voltou feliz, pela primeira vez.Se sentindo bem.Sentia que simplesmente não dava, que simplesmente tinha acabado.

Por isso, quando ele ligou na manha do sábado perguntando se ela queria sair, ir em um parque, um show ou qualquer coisa, ela disse não.Apenas não.Deu tchau, acenou com a cabeça, desligou o celular e não tinha mais vontade de dizer nada.Tinha acabado.Acabado e ponto.

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